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Os bancos snifam que se fartam!

Não é novidade, fala-se do assunto alto e bom som ou em sussurros alcatifados: o dinheiro do narcotráfico alimenta a Bolsa, é um dos pilares do sistema bancário.
Em 2009, um relatório do Departamento das Nações Unidas para a Droga e o Crime registava “Em tempo de quebras dos lucros os grandes bancos devem pensar que o dinheiro não tem cheiro. Os cidadãos honestos, que enfrentam dificuldades em tempos de crise financeira interrogam-se por que razão não são confiscados os lucros do crime convertidos em luxuosos bens, imóveis, carros, barcos, aviões.”
Não são porque nunca ou muito raramente o foram, porque muito do dinheiro que corre nas veias do sistema financeiro global não passaria o mais simples teste de detecção de droga. Entra nesse circuito como os esgotos urbanos entram nas etares, para saírem de lá purificados e aptos para contribuírem para o crescimento económico seja pela via do investimento seja para sustentar guerras. Duas formas de circulação do dinheiro em que a segunda é muitíssimo mais rápida que a primeira.

O sociólogo suíço Jean Ziegler há muito que denunciou essa situação em vários livros e artigos em jornais e revistas, identificando as áreas preferenciais para a lavagem de dinheiro: empreendimentos imobiliários sobretudo turísticos, a bolsa, as offshore, a comunicação social, o ensino universitário. Agora, em finais de 2009, o chefe do referido Departamento da ONU, António Maria da Costa disse à imprensa que muitos empréstimos entre bancos (empréstimos de curto prazo que os bancos fazem entre si) assentavam em dinheiro da droga.
Em 2008/2009 quando a bolha financeira do mercado subprime (a economia tem dado um inestimável contributo na invenção de terminologias linguísticas) estourou e os mercados financeiros entraram em rotura, os bancos voltaram-se para os governos e para os cartéis da droga para obterem dinheiro. Sem esse dinheiro muitos dos bancos mais importantes não teriam sobrevivido às jogadas de alto risco motivados por uma ganância que desconhece limites.
Nos EUA, o resto do mundo não é muito diferente, os bancos podem envolver-se em grande escala, em actividades descaradamente criminosas sem correr grandes riscos.

O último, agora revelado por Michael Smith da Blomberg (o maior web-site internacional de informação económica e financeira com sede em Nova Iorque e delegações em Londres e Tóquio), pormenoriza as operações do Banco Wachovia para lavar 380 mil milhões de dólares, resultados do comércio de cocaína realizado por cartéis da droga. Funcionários do Wachovia alertaram a constelação de CEO’s presidentes, directores, e por ai fora que fizeram ouvidos de mercador surdos que estavam com o tilintar do furacão de dinheiro a ser despejado nos cofres, som que lhes é mais querido que a melhor música celestial.
O Wachovia, comprado em fins de 2008 pelo Wells-Fargo na sequência da crise, é um dos maiores bancos norte-americanos e bem sabia que o castigo que o Departamento Federal de Justiça iria impor, pela lavagem comprovada de 380 mil milhões de dólares, seria, como foi, ridícula: a promessa de não voltar a fazer semelhante transacção e uma multa de 160 milhões de dólares. Promessa logo feita, aquela gente faria corar de inveja Frei Tomás, e pagar 0,045% ( !!! ) do valor do negócio torna o crime altamente rentável.
O FED não fez nada! Não deverá espantar ninguém. O celebrado FED, a Reserva Federal Norte-Americana, não é uma entidade independente (o que será que se deve entender como independência dos Bancos Centrais?) é uma poderosa coligação de bancos privados protegida pela lei dos EUA. Claro que quem preside são governadores nomeados pelo governo o que não afecta a sua estrutura. Desse lado podem dormir descansados. Paralelamente, como se vê, o Departamento de Justiça resolve as acusações criminais com acordos de suspensão das acções judiciais. O acordo feito pelo Wachovia/Wells Fargo com o DE é de um supremo descaro. O banco reconhece a culpa, a justiça louva a confissão e condena com parcimónia. Há que sossegar os próximos prevaricadores!

Bem pode Obama proclamar que vai regulamentar a actividade bancária e financeira. Declarações retóricas sem qualquer consequência prática. O que se passa actualmente é que os grandes bancos, mesmo que tenham pés de barro, são excessivamente grandes para caírem, o que lhes confere uma escandalosa impunidade em que tudo ou quase tudo é cinicamente permitido, porque não se pode correr o risco de provocar pânico nos mercados financeiros. Uma história da treta com tigres de papel a rugir alto e grosso, enquanto o sistema for aquele e não sair da cepa torta.

Os carteis da droga podem dormir descansados, excepto em situações de guerras intestinas, que os bancos estão lá para lhes snifarem o dinheiro limpando-o dos traços de droga. Os mercados ficam felizes com essas injecções que lhes aceleram a respiração e o pulso e os banqueiros podem continuar a explicar as virtudes do seu “trabalho” tendo por ruído de fundo o borbulhar do champanhe, o inaudível tic-tac dos rolexes, o ronronar dos rolls, os afagos do vento nas asas dos jactos particulares, o som da tinta no espesso papel couche onde imprimem os seus alçados principais pavoneando em gloriosos encontros em que se discute o futuro do mundo e em festas idiotas onde exibem o luxo que o poder engraxa. Cenários e adereços onde diluem, até desaparecer, o sangue que aduba os milhares de milhões de dólares, euros, libras. Ienes e todas as outras mais que circulam a alta velocidade nos mercados de capitais.

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