Política

Emigrantes: nuvens na Europa

Um pouco por toda a Europa multiplicam-se sinais de desconforto com os emigrantes: em Espanha, a partir de uma iniciativa de um grupo catalão de extrema-direita, o Senado debate um projecto do PP espanhol visando a proibição da burca islâmica. O mesmo se passa em França e na Suiça. No Luxemburgo um agente policial difunde uma mensagem de correio electrónico com conteúdo xenófobo ofensivo para diversas comunidades, entre as quais a portuguesa…

Tradicionais destinos de emigração, os países da Europa ocidental devastados pela 2ª Guerra Mundial reergueram-se com a fundamental colaboração de emigrantes. Numa primeira fase com levas de muitos milhares de emigrantes de outros países europeus periféricos, caso dos portugueses, espanhóis, italianos e jugoslavos. Mais tarde também com a emigração oriunda das suas próprias ex-colónias, que atingiu consideráveis dimensões no caso francês, dada a dimensão das suas antigas possessões. Isto é, há várias gerações que a emigração faz parte do quotidiano dos países mais ricos do continente europeu, tendo aí uma expressão muito significativa. A Alemanha tem 12,3% de emigrantes, enquanto a Espanha e a França atingem, respectivamente, 12,2% e 10,2%. No Luxemburgo os portugueses constituem 16% da população do país. Um clima económico de relativa abundância e crescimento económico, agora ameaçado por falências, desemprego e cortes de apoios sociais, tem suportado a serenidade nas últimas décadas…

A novidade da emigração chegou a Portugal nos anos noventa, com a implosão dos sistemas sócio-políticos de muitos países da Europa de leste. Não que até então não conhecêssemos outros povos. Mas são, também eles, o resultado do antigo “império colonial” – cabo-verdianos, guineenses, são tomenses, angolanos, moçambicanos e timorenses não são exactamente estrangeiros. Mal saídos da pobreza mais pobre e das guerras coloniais, os portugueses, desde sempre um povo de emigrantes, começaram a ver chegar ucranianos, kosovares, bósnios, brasileiros. Isto é, viram o país tornar-se um destino de emigração, potenciado pela livre circulação nos países do espaço Schengen.

Não temos sinais públicos de rejeição de hábitos das comunidades estrangeiras como os que vemos tomarem já expressão institucional e legal em países vizinhos. Mas estamos cientes que há uma percepção difusa sobre os impactos das comunidades estrangeiras de maior dimensão – nomeadamente a brasileira – na vida das cidades, no domínio da convivialidade e da partilha do espaço público. Há problemas diagnosticados junto de descendentes de imigrantes, a chamada 2ª geração, para que há que desenhar intervenções e programas específicos. A concentração em guettos de habitação social terá que ser alterada.

A dimensão da comunidade muçulmana em Portugal, estimada em 30.000 membros, segundo dados da Comunidade Islâmica de Lisboa, contrasta com a expressão atingida em países como França (3 a 4 milhões, 7% da população) ou Alemanha (2 a 2,5 milhões) – o que ajuda a compreender a inexistência de problemas em Portugal ao invés do que tem vindo a acontecer naqueles países.

Dada a baixíssima taxa de natalidade que os portugueses têm na actualidade, a imigração tem que ser uma solução a considerar seriamente. Os imigrantes são, na maioria dos casos, pessoas em idade activa e disponíveis para trabalhar, desempenhando funções que os nacionais não vêm como atractivas. O cosmopolitismo de uma sociedade com comunidades de diversas origens permite que ela seja mais plural e rica. Aos imigrantes devem pois ser concedidos os direitos inerentes a quem trabalha e exigidos os deveres correspondentes. No respeito da sua cultura e das suas tradições, deve ser-lhes proporcionada formação sobre a cultura e as tradições portuguesas.

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