A ironia não podia ser maior. Passada que está uma semana sobre o Dia Mundial da Criança, o Ministério da Saúde apronta-se para encerrar definitivamente a urgência externa pediátrica nocturna do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, segundo notícia do jornal “24 horas” de hoje. Prevê-se que os utentes que procurem aquele serviço hospitalar, entre a meia-noite e as nove da manhã, sejam encaminhados para o Hospital Garcia de Orta, em Almada.
A concretizar-se tal decisão, será mais uma má notícia para Setúbal e a região do Sado. Segundo a mesma notícia o hospital setubalense recebe anualmente cerca de 30.000 crianças nas urgências pediátricas, das quais cerca de um terço, 10.000, em período nocturno. Atente-se que o Hospital de São Bernardo atende as populações de uma área que inclui, para além dos concelhos de Setúbal e Palmela, toda parte sul do distrito, Alcácer do Sal, Grândola, Santiago do Cacém e Sines, num total superior a 250 mil habitantes.
Muito mal vão as coisas quando a medida é justificada com falta de meios humanos. Estando Setúbal a meia hora da capital, onde se concentram importantes recursos clínicos, não se compreende a dificuldade em dotar o Hospital de São Bernardo com médicos daquela especialidade no período nocturno. Os responsáveis pelos serviços públicos de saúde estão pois a dever-nos uma explicação.
Esperemos que partidos políticos, deputados do distrito e responsáveis autárquicos dos municípios abrangidos por tão danosa medida não deixem de fazer ouvir o seu protesto. É que, com alguma frequência, decisões de tão elevada importância para a qualidade de vida das populações são tomadas sem que quase ninguém se aperceba delas.