O PS é um partido plural, proclamaram os dirigentes distritais socialistas que torcem o nariz a Manuel Alegre, depois de mais uma noite a discutir o apaixonante tema do candidato presidencial a apoiar em 2011.
A pluralidade invocada apenas serve a dirigentes como Vitor Ramalho, da Federação de Setúbal, para discordar do apoio a Alegre e condicionar a decisão partidária. Mas, melhor do que isso, foram as condições que alguns destes dirigentes quiseram impor ao possível candidato socialista: “o candidato a apoiar terá de garantir que não interfere na esfera governativa“.
Ora aqui está uma “sábia” imposição a alguém que se queira candidatar ao apoio socialista. Esta condição provoca-me, contudo, uma dúvida: será que Mário Soares — que foi (dizia ele) presidente de todos os portugueses, com o apoio do PS — está de acordo com esta condição? Inclino-me a responder que não, em especial porque é conhecido o comportamento que Soares adoptou em relação ao Governo quando exerceu as funções de Presidente da República. Julgo que ainda ninguém se esqueceu da postura activa de combate aos Governos de Cavaco que Soares manteve (recorde-se o Congresso “Portugal que Futuro?“), sem que alguma vez o PS tenha defendido, então, que o PR deveria garantir que não interferia na esfera governativa.
Compreende-se a tentação socialista. Mas era bom que as vistas destes dirigentes distritais não fossem tão curtas. Será que não desejam que o possível PR Alegre tenha uma postura política interventiva em matéria de políticas governativas quando o País virar à direita e o Governo estiver nas mãos dos ultra liberais Passos Coelhistas?
Ou esperam que, perante as mais do que possíveis alterações nas políticas sociais (e outras…) do Estado, Alegre (ou outro qualquer), enquanto PR, continue a garantir que “não interfere na esfera governativa”. Não me parece…
A garantia que é pedida ao candidato é, pois, mais um sinal da evidente desorientação que grassa no PS e da falta de sentido estratégico de alguns soaristas ferrenhos, incapazes de ver para lá do seu próprio umbigo.