Cultura

Olhar Mágico

Esta semana, em Paris, há a última oportunidade de ver no Hotel de Ville uma retrospectiva de IZIS (1911-1980), um fotógrafo pouco conhecido do grande público.
Izis (Izraelis Bidermanas) é um dos grandes fotógrafos humanistas que no século XX fazem a prática fotográfica impor-se como uma das áreas da arte, começando a construir a História da Fotografia. Nasce numa pequena cidade lituana e com dezanove anos ruma a Paris, atraído pelo frenético pulsar das artes que faziam da cidade luz um centro cultural irradiante, onde confluem artistas de todo o mundo. Tem um princípio de vida extremamente difícil trabalhando em fotografia, como aprendiz de fotógrafo, actividade em que se iniciara ainda na Lituânia, e envolvendo-se nas técnicas laboratoriais.

A guerra fá-lo fugir para Limoges, onde integra a resistência sem deixar de fazer fotografia. A sua 1ª exposição tem por tema retratos dos companheiros de luta. Acabada a guerra adquire a nacionalidade francesa, adopta o nome de Izis, começa a ser conhecido com os retratos que faz de Camus, Aragon, Orson Welles, Eluard, Jean Cocteau, Colette, Chagall, Juliette Greco e tantos outros. Com o tempo a direcção da sua objectiva muda para as paisagens citadinas e humanas.

Excepcional fotógrafo, nunca em vida alcançará o reconhecimento de um Cartier-Bresson, de um Doisneau ou de um Brassai. Apesar de aparecer sempre referido entre os cinco grandes fotógrafos franceses e dos êxitos obtidos com os livros que publicou com textos de muitos poetas e escritores, com destaque para Prevért, e de várias exposições individuais por várias cidades do mundo, nunca atingiu a notoriedade dos seus contemporâneos da mesma geração e das gerações seguintes.

Esta exposição, que estará em Paris até ao fim do mês de Maio, apropria-se do título de um dos seus livros, Rêves de Paris, para sistematizar todos os seus grandes temas, Rêves de Libération, de Paris, de Paradis, de Londres, de la Terre Promise, de Cirque, de Vies d’Artistes. Acaba por ser uma quase revelação redescobrindo esse homem de uma tremenda sensibilidade dotado daquela capacidade quase sobrenatural do olhar fotográfico que vê o mundo envolvente em enquadramentos que transmite para a objectiva.

Não será possível trazê-la a Portugal? Transitam por cá tantas exposições, fotográficas algumas, provavelmente com custos equiparáveis à instalação desta, que só adquirem notoriedade debaixo dos guardas chuvas do marketing cultural que disfarça fragilidades estéticas. Do pelotão de curadores, comissários, etecetários que se acotovelam nos corredores das galerias, não haverá um que tenha um sobressalto e se interesse por inquirir essa hipótese?

Enquanto se lança o desafio e se esperam resultados vejam as fotografias que anexamos. Percebe-se sem dificuldade que vê-las com o peso da realidade seria uma experiência estonteante.

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