Setúbal

A Festa de Toiros é nossa!

Apressam-se alguns activistas setubalenses anti-touradas a contestar a já anunciada realização de corridas de toiros em Setúbal por ocasião da Feira de Sant’Iago, tradição interrompida nas suas duas últimas edições.

Não compreendo a luta encarniçada que os auto-nomeados defensores dos animais fazem contra a festa de toiros. São muitos os que em Portugal apreciam as corridas de touros e outras manifestações taurinas. Maioria ou minoria, não se sabe. Diversas zonas do país têm profundas e arreigadas tradições associadas aos toiros. Locais onde a vida das comunidades se desenvolveu em íntimo contacto com a cultura taurina. Na generalidade do Ribatejo, um pouco por todo o Alentejo, em partes relevantes do distrito de Setúbal – Moita, Montijo, Alcochete e mesmo Setúbal. Para não falar dos Açores – onde na ilha Terceira decorrem com extraordinário entusiasmo popular as “corridas à corda”. A secção de municípios com actividade taurina da Associação Nacional de Municípios Portugueses conta com 36 municípios, o que significa que cerca de 12% dos concelhos portugueses se reconhecem com fortes tradições tauromáquicas. A tauromaquia é pois um elemento da identidade cultural dessas regiões e onde, em alguns casos, se registam especificidades locais muito fortes, veja-se os casos de Monsaraz, Barrancos ou mesmo Vila Franca de Xira ou Moita.

A tourada e todas as outras festas de touros são um traço distintivo dos países ibéricos, aliás com grande expressão no mundo latino-americano. Dizem alguns que é barbárie. Nada de mais errado. A cultura taurina é plena de códigos e rituais, do movimento ao vestuário, passando pela postura ou pelos acessórios. O objecto sacrificial é um touro bravo, animal de uma raça cuidada e apurada para a Festa. Sem esse apuramento e sem a tourada essa raça não existiria. O Homem luta com o toiro, mas a sua vitória não é garantida. É um espectáculo em que, como em qualquer arte, a qualidade depende dos artistas, dos animais e de outros elementos.

Segundo dados de 2007, a tauromaquia, em apenas 190 sessões, registou quase 300 mil espectadores e rendeu mais de cinco milhões de euros. Valor que ultrapassou a música erudita, a ópera, a dança ou o circo – facto que não desvaloriza nem desprestigia estas artes, mas que afirma a importância da tauromaquia.

A moderna tendência para a normalização tem procurado tudo higienizar. Tem sangue? Então só na televisão ou nos jogos de vídeo. Já M.Foucault nos explicava, em 1975, o progressivo afastamento da expiação do castigo do espaço público e o seu resguardo entre quatro paredes.

Proibir as touradas? Talvez mais um dos maus frutos da globalização. Sermos iguais a outros povos, sem factores que nos distingam? A nossa riqueza está naquilo que nos afirma. Parte da nossa intelligentsia politicamente correcta, inspirada em exemplos de além-fronteiras quer agora, curiosamente, “proibir”. Proibir? Um conselho, quem não gosta não tem que assistir. A um muito discutível direito dos animais, temos que contrapor o direito à afirmação da identidade cultural.

PS – Setúbal continua, lamentavelmente, sem poder contar com a sua bela Praça de Touros Carlos Relvas. Carente de obras de recuperação, foi há algum tempo anunciado um projecto que visa a sua renovação e adaptação às modernas tendências ditadas a partir do exemplo da Praça de Campo Pequeno (Lisboa) – integração de comércio, restauração e valência para a realização de outros espectáculos.

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19 thoughts on “A Festa de Toiros é nossa!

  1. Pingback: A Festa de Toiros é nossa! (II) – Política « Praça do Bocage

  2. Heidi Ponge-Ferreira diz:

    Chamam sofrimento de “festa” e homens covardes de “machos”.
    Vale a máxima da psiquiatria criminal :” por trás de cada opressor há sim um oprimido e frágil ser humano que não sabendo se impor nos seus relacionamentos e pela inteligência, faz uso da brutalidade e violência na tentativa de ser notado!”
    A humanidade precisa esquecer tradições retrógradas à civilidade.

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  3. Simone Bellucci diz:

    “A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de caráter, e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem.” (Arthur Schopenhauer)

    Não devemos perder tempo com comentários inúteis, pessoas genéricas…
    As Touradas estão com os dias contados!!!!

    :))))

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  4. jo sperate figueiredo diz:

    nada que faça apologia à morte pode ser chamado de festa!
    guerra, nazismo…vocês aplaudem a isso?
    então por que aplaudir uma festa de sangue animal?

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  5. Luisa Antunes diz:

    Declaração Universal dos direitos do Animal (Proclamada pela UNESCO em sessão realizada em Bruxelas em 27 de Janeiro de 1978)
    Artigo 1º
    Todos os animais nascem iguais perante a vida e têm os mesmos direitos à existência.
    Artigo 2º
    1.Todo o animal tem o direito a ser respeitado.
    2.O homem, como espécie animal, não pode exterminar os outros animais ou explorá-los violando esse direito; tem o dever de pôr os seus conhecimentos ao serviço dos animais
    3.Todo o animal tem o direito à atenção, aos cuidados e à proteção do homem.
    Artigo 3º
    1.Nenhum animal será submetido nem a maus tratos nem a atos cruéis.
    Artigo 10º
    1.Nenhum animal deve de ser explorado para divertimento do homem.
    2.As exibições de animais e os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal.
    Artigo 11º
    Todo o ato que implique a morte de um animal sem necessidade é um biocídio, isto é um crime contra a vida.
    Artigo 13º
    1.O animal morto deve de ser tratado com respeito.
    2.As cenas de violência de que os animais são vítimas devem de ser interditas no cinema e na televisão, salvo se elas tiverem por fim demonstrar um atentado aos direitos do animal.
    Artigo 14º
    1.Os organismos de proteção e de salvaguarda dos animais devem estar representados a nível governamental.
    2.Os direitos do animal devem ser defendidos pela lei como os direitos do homem.

    É obvio que é preciso um certo grau de inteligência para aceitar isto mas,infelizmente, há muito quem não a tenha!

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    • Percebo bem a tentação de apelidar os que não concordam connosco de ignorantes e insinuar a sua estupidez. Essa tentação, é sabido, conduziu aos piores totalitarismos e às mais atrozes ditaduras. Por mim, pode continuar a insinuar a minha ignorância. Pouco me importa. Até porque posso ficar na companhia de outros ignorantes apreciadores de touradas, como Hemingway ou Picasso…

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      • Américo Carlos Costa diz:

        Por favor Srº Paulo Anjos, haja paciência…conduzir aos piores totalitarismos e às mais atrozes ditaduras!?
        Não será precisamente isso que faz e defende ao querer submeter terceiros a tais barbaridades e sofrimento!!??
        Realmente, o pior cego é o que não quer ver!

        Já conclui que não vale a pena a tentativa de prevalecer o lado mais correcto a todos os niveis, no sentido de melhorar opiniões e comportamentos menos correctos.
        A maldade e a ignorância quando tomada de estimação, é acarinhada mesmo que isso seja sinónimo de dor e sofrimento, cegando e impedindo de ver as coisas mais básicas.

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  6. Pingback: Ainda a tourada… « Praça do Bocage

  7. Carlos Anjos diz:

    Aos anti-taurinos
    A principal premissa do activismo destes novos “post-modernos” assenta nos famosos direitos dos animais. E pretendem, ilusoriamente, fazer elevá-los à categoria de direitos humanos. Mas essa é uma premissa por demonstrar…. Terão que demonstrar que os animais estão no mesmo plano dos seres humanos e, para o comprovar, terão que se tornar vegetarianos…

    Teremos ainda que dirimir a prevalência de direitos e sugerir a leitura da Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (UNESCO, 2002), para que não usem os direitos dos animais como uma arma. A festas de toiros fazem parte indesmentível da paisagem cultural ibérica e latino-americana.

    Na sua ignorância e má vontade para compreenderem o que manifestamente não pretendem compreender, referem-se, por preconceito, àqueles que apreciam a festa de touros como “sádicos” que tem um desejo “mórbido” por sangue. Com que direito? Quem sois? Juízes morais? Felizmente que já não temos a Inquisição para julgar e punir tais gostos, pois que há luz dos elevados padrões morais destes anti-taurinos certamente seriamos condenados à fogueira…..

    Pretendem ainda acabar com uma cultura e um mundo centenário. Se conseguirem acabar com a Festa, atentem que irão acabar com uma raça de animais – o toiro bravo – que só existe porque faz parte desse mundo centenário. Um mundo de que os anti-taurinos apenas vêm o sangue – de que tem horror. Mas, meus amigos, o mundo têm sangue e tem conflito. Tem o confronto da força com a inteligência. E, no caso da corrida portuguesa, tem esse confronto notável e inexplicável entre homens (forcados) e toiro. Essa é uma dimensão antropológica que está presente na festa de toiros.

    Concordo que estará em falta alguma pedagogia sobre a festa e arte taurina que vos ajude a ultrapassar a visão traumática do sangue de Homens e toiros. Os círculos tauromáquicos são, frequentemente, muito virados para o seu interior e para o gozo do fascínio que as corridas exercem sobre os aficionados.

    Quanto à adopção de animais… ditadores como Hitler eram grandes “amigos” de animais – assim o fossem dos seres humanos.

    Precisamos, isso sim, de uma sociedade que respeite as pessoas – e isso ainda não acontece.

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    • Américo Carlos Costa diz:

      Pois fique sabendo que a minha conversa não é cheia de demagogia vã, eu ajo em conformidade com aquilo escrevo e que sou, esta postura é perfeitamente visivel e normal para pessoas com uma visão correcta das coisas no seu todo. Por isso sou vegetariano à muitos anos tal como muitos dos defensores dos animais.
      Claro que o Srº está a léguas de perceber a real importância de tal posição, mas ainda consegue vislumbrar e associar que quem olha pelos animais não os deve comer, tendo todo um leque de benesses com esssa tomada de consciência que eu podia passar muitas linhas a enumera las, mas para isso o Srº teria de merecer com uma postura menos intransigente ou no sentido de lhe dar devida importância.

      Quanto ao resto da vossa retórica rebuscada de sempre, no que diz respeito aos espectáculos cruéis a que juncosamente gosta de associar à cultura, mas não passa disso mesmo de pretextos ocos e vazios sem fundamentos morais validos, a não ser o da estagnada visão mental de cada vez menor grupos de individuos que primam pela ignorância de fundo, de interesses pessoais sem escrúpulos, e intransigência ao serem confrontados com a verdade dos factos, acerca de uma tradição obsoleta pela visão actual – felizmente cada vez mais comum – em relação à esses ditos actos festivos revestidos de pura crueldade e subdesenvolvimento humano.

      Por ultimo deixo aqui umas frases que o deveria fazer pensar na sua essência e sobre os seus argumentos aqui expostos:

      ” Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.”
      Mahatma Gandhi

      “A grandeza e o desenvolvimento de uma nação pode ser julgada pelo modo que seus animais são tratados.”
      Mahatma Gandhi

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      • Ana Santos diz:

        As tradições têm normalmente origem em tempos antigos, em que as sociedades, mentalidades e modos de vida eram bastante diferentes dos actuais. Com o tempo, o Homem e as suas comunidades tendem a aperfeiçoar e desenvolver a sua forma de viver e pensar. Chama-se a isso evolução. É por essa razão que já não tomamos banho com baldes de água aquecida numa fogueira, é por essa razão que a escravatura, que tanto agradava a algumas pessoas, foi abolida e é também por essa razão que já não acreditamos que basta dançar ou sacrificar um animal para fazer chover.
        As tradições, por muito bonitas que sejam, só fazem sentido quando são compatíveis com as formas de pensar e os conceitos vigentes. Como hoje em dia, o respeito pelo sofrimento dos animais começa a fazer parte da forma de pensar de muita gente, as Touradas deveriam ser postas em causa e abolidas (ou repensadas, colocando na arena, por exemplo, o Toureiro nu em frente ao Touro – sempre era mais masculino do que com aqueles fatos – E cada um que se desenrascasse. Se é espectáculo que querem…)

        (comentário moderado)

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    • Margarida Mateus diz:

      Pois realmente, é inutil falar com aficionados por tradições medievais onde o sangue e sofrimento de animais em praças publicas é muito divertido.

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  8. Américo Carlos Costa diz:

    Onde fica a consideração pela dor e sofrimento atroz de um ser inocente que apenas se tenta defender contra uma situação que não a provocou, que age apenas em auto-defesa!?
    Uma tradição é isto, Srº Carlos Anjos? Dar primazia à falta de visão de grupo de pessoas sobre os aspectos fundamentais que deviam imperar sobre a nossa moral, sobre as nossas leis?
    Isto não se trata de tradição, mas sim de desejo mórbido de sangue de gente sádica que se agarra a falsos argumentos para continuar esta barbárie.
    Os toiros não se encontram neste planeta para uso do homem, muito menos para serem torturados dessa forma cruel, eles tem tanto direito a viver uma vida plena como qualquer um de nós, como qualquer animal deveria, pois entre todos partilhamos a vida e a existência que contribui para a riqueza e singularidade deste planeta.
    A nossa afirmação perante os outros povos deveria mostrar que temos a capacidade de reconhecer, e evoluir num sentido mais humano e adbicar de actos e desejos crueis, tais como a touradas e outros, isso sim, seria uma bela forma de nos afirmarmos correctamente perante os outros.
    O Srº Carlos Anjos parece ser uma pessoa com capacidade suficiente para perceber estas palavras, não entendo, como não entende os porquês de quem é contra tais espectaculos crueis. Além de apelar à sua inteligência, apele também ao coração e intuição, para tentar perceber o quanto está errado em defender tais coisas, o Srº têm capacidade para o fazer e dessa forma se enriquecer muito mais como ser humano.
    E sim, Srº Calos Anjos, os animais pelas capacidades cognitivas e sensoriais, deveria ter direitos, e não serem considerados como simples objectos sem qualquer direitos.
    Experimente adoptar um animal, seja ele qual for, e irá entender isso muito bem e ver por sim proprio o verdadeiro valor dos animais.
    Eles fazem de nós melhores seres humanos, experimente!

    PS: O Homem em vez de explorar, torturar, menosprezar e matar seres vivos que partilham o dom da vida com ele, deveria sim pela sua condição e capacidade, cuidar, tratar e zelar pela suas vidas e condições, pois esse deveria ser o nosso papel, pois isso faria do ser humano muito mais Humano, e isso sim nos ia distinguir verdadeiramente dos que tanto menospreza.

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  10. Américo Carlos Costa diz:

    -Mas quem pensa o srº Calros Anjos que é, para desta forma decidir a vida ou proposito de vida dum ser vivo ou de sua especie? Tendo esta a plena capacidade e autonomia natural para ocupar o seu lugar neste planeta, que todos deveriamos saber e aprender a partilhar.
    -Desde quando a unica finalidade de um touro é servir desejos sadicos de espectáculos bárbaros de sofrimento e sangue!?

    Não só está em causa um grave atentado espécista, como o incitamento a formas absolutamente bárbaras, cruéis e desumanas sob o pretexto oco e despido de fundamentos morais validos, que ideias ou palavras tenta usar nesse sentido, as possam validar.
    Como pode o Srº (…) incitar e tentar incutir espectáculos extremamentes traumatizantes pelo sofrimento implicito a um ser vivo, num espectaculo cheio de violência, dor e sangue, a crianças que ainda se encontram em completa fase de crescimento mental e psicologico como seres humanos.
    Sim, porque se isso já se refletem negativamente sobre o comportamente e atitude dos adultos perante o sofrimento alheio, qual será então o efeito numa criança que até à pouco tempo via os animais na perpectiva de doces e pacificas fábulas contadas com a beleza propria e ausência de qualquer tipo de violência despropositada.
    Tá o senhor mto enganado quando classifica isso como a tradição de um povo, como tradição a manter, será que não tem a mínima capacidade de compreender que para além do sofrimento do animal na arena, está também em causa o facto do ser humano tirar prazer de tais actos terrivelmente cruéis, no prazer de ver, incutir violência extrema e rejubilar com um terrivel sofrimento sanguinário!
    Diz o Srº Carlos Anjos a determinada altura, e por palavras suas, que não existe barbárie neste espectáculo, e que não podia ser mais errado este conceito!?
    Sinceramente, acredita mesmo nisso (…)!?
    Mais à frente, mostra nos que é apologista do regresso aos terriveis castigos e punições em praça pública, o que só por si já explica em muito a sua visão geral sobre as coisas, e que unicamente reflete uma mentalidade arcaica e à muito obsoleta em relação não só a praticas de violência, como no aspecto social também.
    Por ultimo, e em jeito de conclusão ao seu raciocínio, nos refere a supremacia do direito de identidade cultural em detrimento de direitos básicos e fundamentais como o da vida e o da não-violência gratuita. Mas desde quando moralmente e legalmente as coisas se impõe dessa forma, se assim ainda é será devido à inoperância das classes politicas e governos de mudar estatutos fundamentais, por ir contra a certos interesses e lobbies.
    Mas desengane-se o Srº (…), pois os vossos interesses e gostos, pelo efeito da evolução natural da humanidade, se encontra moribundo e em extinção (…).
    E deixe me terminar com a designação correcta de tradição, a verdadeira tradição do homem é evoluir num todo (…)
    Passe bem!

    Comentário moderado

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  11. ajvc diz:

    Se o senhor que escreveu isto por ironia de Deus fosse colocado no lugar do touro, aposto que não se iria sentir lá muito bem com o sofrimento sentido.
    Se as tradições não evoluíssem ainda hoje havia homens a ser atirados aos leões, como na antiga Roma.
    O problema é mesmo a dureza do coração, Deus deu-lhe olhos para ver, mas não vê, coração para sentir, mas não sente….
    Cristo disse que colheríamos o que semeasse-mos, tanta insensibilidade o que é que colherá????

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  12. ricardo pina diz:

    que confusão. é o sofrimento que está em causa e não a identidade; para arte existem coisas mais ‘estilosas’ (e qual é a tradição setubalense ligada às touradas?).

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