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Abrir os Armários

armário

Eles aí estão a sair do armário!!!

Toda essa gentalha que estava fechada no armário da democracia, salta para o pântano da mais farfalha reaccionarice, para combater o fantasma de um governo de esquerda.

Invadem o terreno dos meios de comunicação social que há muito anos ocupam com maior ou menor parcimónia, com maior ou menor descaramento, com a maior ou menor inabilidade, onde mentem com contumácia sobre a realidade para construírem uma realidade que nos vendem como verdadeira.

Agora depois dos resultados eleitorais em que, mentindo com todos os dentes que têm,, recuperando mesmo os cariados que foram arrancados e substituídos por próteses, a coligação PSD/CDS com alianças declaradas ou sornas nos media, é minoritária e há a possibilidade de um governo de esquerda, ainda que seja para já tão provável como a aparição de D. Sebastião numa manhã de nevoeiro, salta do armário esse exército que reúne dos mais ultramontanos direitinhas aos mais esclerosados democratas.

Curiosamente o argumentário é, no seu essencial, o mesmo quando se vislumbra uma sombra que pode ameaçar o Portugal deles, o Portugal destruído por quarenta anos de políticas de direita, submetido aos ditames do capital e dos seus braços armados. Uma hipotética coligação de esquerda fá-los perder a cabeça e saltar dos armários. Uma dessas avantesmas ficou tão aterrorizada que até entreviu Estaline a ressuscitar em pleno Terreiro do Paço pronto para tomar o poder. Diz essa alarvidade sem que ninguém o contradiga ou diga que está louco. Os outros, que se querem fazer passar por mais credíveis, não perdem tempo em agitar os fantasmas do Prec, da democracia, a deles evidentemente, à beira do abismo em 1975, mais a parafernália de argumentos que foram buscar à arca da contra-revolução que começou na primeira hora do triunfo do 25 de Abril. Estão ajoelhados na grande Meca do capital, aos ditames da União Europeia, às virtudes do Tratado Orçamental e das políticas de austeridade, à NATO e ao seu combate cínico aos talibãs, Al-Qaeda e Estado Islâmico que ela e seus aliados no terreno armam e financiam, às hordas nazi-fascistas que proliferam na Europa e estão no poder na Ucrânia.

No meio dessa farândola, vendendo rifas dessa quermesse de mentiras maiores ou menores, sorridentes serpentes saem do ovo para mostrar a sua perplexidade. Um deles interroga-se porque é que na Constituição Portuguesa os partidos nazi-fascistas são proibidos e os leninistas (sic) não o são. Isto é dito pelo inefável Lobo Xavier na Quadratura do Círculo. Fê-lo com o sinistro cuidado de ser o último a falar, de o dizer a fechar o programa. Esperemos que na próxima edição Pacheco Pereira ou mesmo Jorge Coelho não deixem passar em claro essa abominação já que do moderador nada há a esperar. É mais um daquela turbamulta etiquetada de jornalistas que mais não são que caixas de ressonância do pensamento único.

Se Lobo Xavier, com evidentes saudades salazarentas, foi mais longe insinuando a possibilidade de proibir o PCP, os outros não ficam pelo caminho. Basta lê-los ou ouvi-los, mesmo na diagonal. Para nos limitarmos a um jornal que usa todos os arautos para se proclamar de referência, também não se sabe qual o padrão a que se refere, é ler da anémona Henrique Monteiro, que cola um sorriso estanhado no alçado principal para se fazer passar por inteligente, ao cruzado da pequena e média-burguesia, também ele empunhando um sorriso gambrinus, Martim Avilez. De cabeça perdida, de norte desbussolado fazem strip-tease dos adornos democráticos, não se escusam a escrever blasfémias à inteligência!

Já se sabia que essa armada de traficantes junta em tropel as hostes sempre que os interesses do grande capital se sintam ameaçados. O que talvez não fosse previsível é que com sinais ainda tão fracos fossem tão rápidos a terçar armas. Sinal que o mundo deles está muito corroído apesar da gigantesca burla que é vendida urbi et orbi como verdade única. O ambiente de alarme pós-eleitoral é sintomático, despe-os na praça pública de toda a conversa fiada com que vão entretendo o tempo, enquanto afiam as facas para defenderem os seus amos. Julgam-se uma armada invencível. De facto têm um poderosíssimo armamento à sua disposição para não deixarem dissipar o negrume da gigantesca fraude que dá corpo a um fascismo pós-moderno que marcha pelo mundo disparando a esmo as bombas de fragmentação com as mentiras com que o manipulam.

O que se está a viver em Portugal, desde que conhecido o resultado das eleições e independentemente do que resultar delas. escancara as janelas para uma realidade insidiosa que se vive dia a dia. Que nos é servida em doses perigosas: das pequenas às grandes mentiras que tendem a formatar a opinião das pessoas, para que o verdadeiro poder dominante nos continue a governar.

Contra eles recorde-se George Orwell: “num tempo de fraude universal contar a verdade é um acto revolucionário”

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vigaristas,aldrabões e todos os outros ões

burro

Desta gente espera-se tudo! mesmo tudo! já nada nos devia espantar! A realidade ultrapassa sempre a ficção.

Ontem Paulo Portas, à boleia da crise grega, faz um discurso nas Jornadas parlamentares PSD/CDS digno de um vendedor da banha da cobra! Hoje ouve-se Passos Coelho tirar da cartola este coelho com mixomatose: “O discurso do medo era o trunfo do governo, os gregos destrunfaram esta maioria”

Nenhuma evidência trava esses vigaristas intelectuais, esses vendedores de vigésimos premiados que todos os dias vendem nos meios de comunicação social. Claro que o pano de fundo da comédia grotesca que essa gente caricata escreve, encena e representa, é o imenso fracasso das suas políticas austeritárias que nos empurram para o buraco grego. A transpiração de medo que a solução que for encontrada para crise grega, qualquer que seja, ainda que contra a vontade dos burocratas com sangue de barata instalados em Bruxelas, será a negação do que andaram a vender nos últimos quatro anos. O relatório do FMI, que  tentaram esconder, aponta nessa direcção. Mesmo que seja insatisfatória a solução, não deixará de haverá uma reestruturação da dívida e medidas para ultrapassar ima austeridade estúpida. Quem vende gato por lebre convencido que nunca será descoberto, continuará  a palavrear de mentirolas quase inocentes a gravosas e enormes mentiras. Há gente presa, há gente interdita por muito menos. A realidade é que haverá sempre gente que ainda compra a esses Oliveiras da Figueira (o homem que vendia frigorificos aos esquimós e sobretudos aoa congoleses) um automóvel em primeira mão. O pior é que é garantido que o carro não tem motor e a carroceria é de baquelite!
Oliveira da FigeiraMesmo o mais medíocre farsante, como são estes senhorecos, terá sempre espectadores, neste Portugal do Burro em Pé(*) . O Portugal visto tal e qual é. Uma sociedade desapiedada em que os pobres são abandonados, em que as crianças passam fome, em que os velhos são mesmo tratados como trapos. O Portugal de antanho que Passos Coelho  e Paulo Portas revisitaram e ressuscitaram.

Espera-se, deseja-se que a lucidez conquiste cada vez mais portugueses!

(*) Burro em Pé, José Cardoso Pires, publicado em Dezembro de 1979, pela Moraes Editores, ilustrada com pinturas de Júlio Pomar e capa de Sebastião Rodrigues.

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OXI

Não! Não, os gregos não querem morrer de pé!

Querem viver de pé!

OXI

Grande lição de dignidade e de democracia que a Grécia deu a uma Europa pantanosa que vende honra, dignidade e princípios na mesa do orçamento, na contagem dos euros!

Em que um país, a Alemanha, o maior incumpridor de dívidas no século XX, que tem dívidas por saldar a vários países que saqueou, destruiu e roubou, dá ordens a uma Europa Connosco submissa e sem vergonha!

No dia seguinte ao OXI, não vamos fazer grandes divagações políticas, registe-se a perplexidade e a estupidez contumaz dos mangas-de-alpaca europeus. A Grécia, o povo grego resistiu a todas as miseráveis chantagens, ao aperto do garrote que durante uma semana aumentaram exponencialmente.

As declarações que se ouvem, alguns de tão engulhados ainda nem sequer abriram a boca, desnudam a abjecção que os corrompe como um vírus. Entre todos ouça-se com desprezo as declarações do periquito e da pinguim reunidos de emergência em Paris, enquanto Varoufakis sai de cena de pé e pelo seu pé.

Por cá, muitos dos nossos comentadores alinham com aquele contabilista anão que debita números e inanidades (um tal José Gomes Ferreira, quando escrevo este nome fica à beira da maior náusea em memória desse enorme intelectual, escritor e poeta de cujo nome ele se apropria, devia ser proibido de o usar com tal propositada coincidência!) e os nossos governantes, primeiro-ministro e vice primeiro-ministro, na primeira linha, iguais a si-próprios e ao “seu” Portugal

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,

 

linda vista para o mar,

 

Minho verde, Algarve de cal,

 

jerico rapando o espinhaço da terra,

 

surdo e miudinho,

 

moinho a braços com um vento

 

testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,

 

se fosses só o sal, o sol, o sul,

 

o ladino pardal,

 

o manso boi coloquial,

 

a rechinante sardinha,

 

a desancada varina,

 

o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,

 

a muda queixa amendoada

 

duns olhos pestanítidos,

 

se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,

 

o ferrugento cão asmático das praias,

 

o grilo engaiolado, a grila no lábio,

 

o calendário na parede, o emblema na lapela,

ó Portugal, se fosses só três sílabas

 

de plástico, que era mais barato!

 

                             Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,

 

rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,

 

não há “papo-de-anjo” que seja o meu derriço,

 

galo que cante a cores na minha prateleira,

 

alvura arrendada para ó meu devaneio,

 

bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

 

 

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,

 

golpe até ao osso, fome sem entretém,

 

perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,

 

rocim engraxado,

 

feira cabisbaixa,

 

meu remorso,

 

meu remorso de todos nós…(*)

Não, basta! Não seremos feira cabisbaixa, nem Portugal será o nosso remorso!

Seremos tão gregos, quanto os gregos são portugueses!

(*) Ó Portugal se fosses só três sílabas, Alexandre O’Neil

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A Tragédia Grega e a Miséria Moral da Europa

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Cada dia, cada hora mostra a duplicidade, o cinismo, a falta de ética dos mangas-de-alpaca europeus e da sua aliada no FMI. A miopia política é agravada pela miséria moral que anda à solta nos corredores de Bruxelas.

As últimas declarações de vários responsáveis europeus, em particular de jean-Claude Juncker são a demonstração mais acabada do estado de podridão intelectual dessa gente.

Juncker tem o supremo desplante de se apresentar como vítima da intransigência do governo grego. Diz-se traído nos seus esforços, dele e da camarilha que o rodeia, em manter a Grécia no euro, para bem do grande capital. Sabe muitíssimo bem que a troika, agora chamada de instituições, foi encostando o governo grego à parede, obrigando-o a ir de cedência em cedência até a um ponto em que era impossível ao governo do Syriza recuar mais sem perder totalmente a credibilidade que lhe restava depois de terem ultrapassado todas as linhas vermelhas, todas bem longe do inscrito no programa de Tessalónica, a base do seu programa eleitoral que foi sufragado pelo povo grego nas últimas eleições. As cedências do governo do Syriza riscaram muitas das medidas proclamadas, reformularam outras até as tornar irreconhcíveis, atiraram outras tantas para as calendas numa tentativa de se manter “ na sua casa comum, a Europa”, Foi o governo do Syriza que foi adequando a sua proposta inicial às do nefando memorando da troika. A sua promessa de romper com os memorandos, como tinha gritado alto e bom som, já nem era um eco a soar frágil entre as colunas do Partenon. O relato que Varoufakis publicou no seu blogue sobre a reunião de 27 de Julho, sobre o rompimento das negociações, evidencia a torpeza do Eurogrupo e o desespero do Syriza em não romper com a Europa, rasgando muito, quase todo, o seu programa eleitoral. O mandato que o povo lhe conferiu. Nada comoveu e demoveu a voracidade das instituições a mando do grande capital.

O referendo que vão realizar é de facto um novo programa eleitoral em que aceita quase tudo o que lhe foram impondo. Desde as primeiras propostas até às que hoje foram conhecidas o Syriza foi atirando para a fogueira europeia  s suas promessas eleitorais, mostrando a sua debilidade ideológica, a fragilidade dos seus príncipios. Quem não recua praticamente nada é a troika, como se pode ler na sua última proposta.

Apesar diso tudo a inefável Europa continua a chantagem contra o referendo. Na primeira linha Jean Claude Juncker, um tipo sem vergonha au vem a público desnudar o seu cinismo, a sua doblez que não tem fronteiras, não tem limites. Diz-se traído, puxa dos seus galões de europeísta convicto, pronto a sacrificar-se no altar da Europa Comum. É o mesmo Juncker que traíu os seus parceiros da europeus quando, primeiro-ministro do Luxemburgo, fez acordos por baixo da mesa com  mais de 300 grandes empresas desviando milhares de milhões de euros do tesouro de vários países, Grécia incluída, que fugiam ao fisco através desse paraíso fiscal no centro da Europa, um Luxemburgo membro desde a primeira hora da Europa Connosco. Candidato a presidente da Comissão Europeia, justificou as suas patifarias, um modo delicado de as classificar, com a sua legalidade. Não haviam de ser legais! Era ele que as tornava legais, promulgando as leis. O que só pode fazer inveja aos Al Capones que não podendo fazer leis, eram “obrigados” a  impô-las recorrendo às bala. A diferença está no armamento de que cada um dispunha. É este Juncker, agora presidente da Comissão Europeia que continua a brandir a bandeira da solidariedade, da firmeza nos príncipios.  È este Juncker que tem o desplante de dizer “sinto-me traído porque os meus esforços e o de outros não foram tidos em conta” (…) “ não propusemos cortes nos salários e nas pensões” uma mentira tão descarada que foi a própria Comissão Europeia que imediatamente o desmentiu, chamaram rectificação! Um nojo!

Os outros não enojam menos. O presidente do do grupo parlamentar do PPE vem a terreiro gritar que “ Tsipras devia abandonar os jogos florais e assumir as suas responsabilidades perante o povo grego” Pois devia , devia. Os jogos florais de Tsipras são o atirar para o lixo o programa eleitoral pelo que o povo grego o elegeu. Essa é que é a sua grande responsabilidade e não a que está implicita na crítica desse mandarete.

Outro descarado sem-vergonha é Schaulbe que diz ter pena do povo grego! Esse carsa-de-pau que na Europa, depois da II Guerra Mundial a Alemanha é a campeã dos incumprimentos, das reestruturações e dos perdões da dívida. Que nãom indmenizou a Grécia, dos roubos e da destruição que fez na Grécia!

É esta a Europa, os dirigentes europeus que temos que dão ordens, que escrevem e impõem leis para tornar legais os seus desmandos.

A Europa está podre! A miséria moral, a hipocrisia, a sua conduta contra os povos, ao serviço dos mercados andam à rédea solta com os meios de comunicação social pela trela.

À Grécia um último rasgo de dignidade, votando NÃO no referendo, com a incerteza ou com a quase certeza, que as medidas anti-populares, contra o povo grego, não as originais da troika em linha com as que durante seis anos, com os governos PASOK e Nova Democracia implementaram com os resultados que estão à vista do mundo,  mas outras igualmente duras, vão continuar,  que é o que as cedências das novas propostas do governo Syriza anuncia. O mau é sempre mau, mesmo que não seja o pior, porque pior é sempre possível. Uma tragédia em que a luz da esperança é fraca e bruxeleante no meio do pantano desta degradação. Seremos os condenados da terra a esta danação? Ontem como hoje a evidência da necessidade e a urgência dos povos de todo o mundo se unirem contra a ditadura bárbara e totalitária dos mercados!

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Syriza por lá e por cá

bandeira grega

O que se está a assistir na Grécia com o Syriza, não é novo. Pelo contrário, tem anos de histórias variantes que acabaram sempre em desastre. Constroem citadelas que dizem inexpugnáveis e acabam por ruir com maior ou menor estrondo, com maior ou mais graves consequências para o povo. O Syriza, desde que se transformou em partido, repetia proclamações que atearam as esperanças dos gregos submetidos à violenta austeridade imposta pela troika: “(…) nunca iremos baixar a cabeça, nunca iremos aceitar a continuação dos programas de austeridade(…) Se ganharmos estas eleições, o pessoal da troika nunca mais pisará o chão de Atenas . Tinha chegado a “Hora da Mudança” , palavra de ordem repetida à exaustão.

A crença na determinação do Syriza, ultrapassou fronteiras. Correu mundo. Os teóricas de uma esquerda moderna e alternativa, entre outros Naomi Klein, Toni Negri. Atílio Boron. Noam Chomsky, deleuzianos e guatarianos de várias cambiantes, embandeiraram em arco. Alexis Tsipras era o heroi libertador das esquerdas ortodoxas e dos extremismos esquerdistas, como se uma coisa e outra fossem compatíveis, apesar de todas as alianças tácticas, sempre possíveis. Finalmente, depois de tantas vezes anunciado e tantas vezes falhado, tinha chegado o Messias, o fundador da Esquerda do Século XXI A imprensa, dominada pelo capital, é bom não esquecer, colava o código de barras que garantia que o Syriza era um partido de esquerda radical. O New York Times chegou a escrever que Tsipras era o “Hugo Chavez helénico, capaz de tira a Grécia da União Europeia e romper com o euro”. coisa que ele nunca disse. Uma farandola bem ao gosto dos tempos que correm que se agarram às tábuas do acessório para que o essencial sobreviva.

Passada a euforia do triunfo eleitoral, triunfo ganho contra uma desenfreada campanha de chantagem sobre os gregos, reafirmadas as promessas de ir de peito feito contra a ditadura neo-liberal da troika, a dupla de argonautas pós-modernos, Tsipras e Varoufakis, irrompem Europa fora, embalados pela maioria conquistada. Quase dois meses decorridos o que resta? Pouco, muito pouco. A vaguíssima promessa de o ordenado mínimo ser aumentado a partir de Setembro, mesmo assim às fatias. Privatizar o que já estava decidido com o governo anterior, com a afirmação que não haverá mais privatizações o que, pelo vento que sopra, é bastante improvável. Voltar a repor um sistema de saúde e um programa de apoio aos desempregados e aos imensos pobres que os programas da troika fomentaram, o que continua em banho maria. Das bandeiras que desfraldaram durante três anos, os panos rompem-se, os buracos crescem ameaçam ser um enorme buraco. O Programa de Salónica do Syriza, Setembro de 2014, foi totalmente rasgado por Alexis Tsipras e Yannis Varoufakis quando, em nome de “um compromisso histórico em moldes europeus”, assinaram um Memorando, uma reedição, vagamente melhorada, do assinado pelo governo anterior da Nova Direita de Samaras.

É por demais evidente que o Syriza, não tem ideologia, não tem programa. Tem um discurso de ruptura que, na situação de países como a Grécia e países que enfrentam as crise económicas com programas de austeridade violentos e que se manifestam inúteis, é aliciante, resulta num momento, mas pode ter sequências que se podem revelar muitíssimo perigosas. Na medida em que o discurso vacilava capturado pela realidade, dizem deliciados os esmagados, uns mais outros menos, pelo pensamento único em todas as suas nuances, o que fica de uma suposto radicalismo de esquerda, é a imagem de Tsipras e Varoufakis desengravatados no meio dos hirtos e engravatados burocratas e políticos europeus. Fica uma imagem de marca, muito pouco para as esperanças que o povo grego neles depositou, com ecos em muitos outros povos europeus, embalados por um fraseado de fachada revolucionária contra os bombardeamentos neoliberais. A contestação na Grécia a essa submissão do Syriza aos programas de austeridade atrelado ao euro, inicialmente corporizada pelo Partido Comunista Grege (KKE), que desde o primeiro minuto denunciou as ilusões semeadas pelo Syriza, alastra ao próprio Syriza, onde as organizações de esquerda que o integram, dos vários grupos trotskistas aos maoistas, dos revolucionários do KEDA aos grupos ambientalistas e feministas, votaram contra o acordo assinado com as instituições, um nome mais aceitável para a troika, e começam a vir para a rua, contestando o fracturado Comite Central do Syriza.

Anote-se que mesmo esse discurso de ruptura frágil, como se veio a demosntrar, colocou em polvorosa os troca tintas coelhos e rajoys, roxos de raiva a assistirem aos deplantes iniciais daqueles gajos quem têm o que eles não têm: apoio popular e tomates, apesar de muito pequenos como agora se vê, e o apoio popular se estar a evaporar

Limpo o palavreado de radicalismos, o Syriza revela-se o que sempre foi. Um partido social democrata mais à esquerda que os seus pares europeus, mas que não trai a sua matriz, a não ser na fraseologia e uns deslavados laivos eurocomunistas, colhidos quando os eurocomunistas já não se faziam passar por comunistas,

Desde sempre mostrou incapacidade em propor mudanças estruturais. Nunca considerou essencial acabar com a propriedade privada de sectores chave da economia como as finanças ou a energia. Nunca percebeu que o grande capital especulativo capturou as economias de todo o mundo. Que a chamada dívida soberana, nos tempos que correm em que os Estados deixaram de ser soberanos, é utilizada para sustentar o grande capital financeiro. Que utilizam os programas de austeridade, os ajustamentos e umas proclamadas reformas estruturais que , tudo junto mais não é que processos de cortar drásticamente os direitos sociais, precarizar o trabalho, tirar rendimento aos trabalhadores, aos pensionistas, aos pequenos e médios empresários. Dinheiro que desaparece da economia e não se sabe para onde vai. Ou antes sabe-se, desaparece nos labirintos complexos que os grandes megapólos financeiros construiram para o ocultar. Quer dizer, no papel até parecia saber embora logo aí tenha abdicado de ser governo com poder real, porque, com eles, o poder económico continuaria em poder dos menos de 1% da população grega onde se acoitam os grandes fugitivos ao fisco. Por vício ideológico, o Syriza nunca percebeu que sem a detenção de poder económico, o poder real é sempre reduzidíssimo. Que se, o poder económico continua nas mãos dos grandes grupos financeiros, industriais, do grande comércio, o verdadeiro poder está nessas mãos, que dominam o poder judicial, o poder financeiro e económico, os grandes meios de comunicação social. Esse um problema com que se debatem, ainda hoje, as revoluções bolivarianas, apesar dos avanços feitos. Por isso estão debaixo do fogo do capitalismo imperialista que os quer derrubar antes que se consolidem.

O resultado é esta capitulação, em quase toda a linha, perante os próceres neo- liberais.

Dos escombros dessa fragorosa derrocada, fica a alegria retórica dos fogachos. Finalmente discutiu-se política, dizem políticos, comentadores políticos, comentadores dos comentadores políticos, salivando nostalgias! Discutiu-se? Ou foi mais fraldas de fora?

Por cá, neste Portugal/ feira cabisbaixa/ meu remorso/ remorso de todos nós, os nossos syrizas, por mais que encham o peito de syrizices, nem arriscam. Sentam-se à sombra do Partido Socialista, prudência e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém que queira ter a garantia de trilhar as estradas conhecidas, talvez com menos pedras e buracos, da Europa Connosco com o socialismo engavetado! O que se pode inferir, com toda a propriedade, ao espremer as declarações de António Costa, quando foi anunciada a vitória do Syriza nas eleições gregas “A vitória do Syriza nas eleições na Grécia é “mais um sinal” da mudança da orientação política que está em curso na Europa(…)É mais um sinal da mudança da orientação política que está em curso na Europa, do esgotamento das políticas de austeridade da necessidade de termos uma outra política que permita fazer com que a moeda única seja efetivamente uma moeda comum” Foi esse o caminho que Tsipras e Varoufakis seguiram com os resultados que estão à vista. O necessário não é uma mudança de orientação política é uma MUDANÇA DE POLÍTICA!

Voltando às viagens na nossa terra, ao Bloco de Esquerda, Livre e o alfobre de partidos e associações que estão a surgir como cogumelos, à sombra cada vez mais reduzida dos syrizas europeus. É patético ouvir e ver os danieis oliveiras, os ruis tavares, joanas e anas mais a restante tropa fandanga muito bem acolhida e protegida pela comunicação social estipendiada, que aquilo é gente gira que só faz cócegas ao poder. Parafraseando Luiz Pacheco na Carta a Gonelha: o que eles querem sabemos nós de ginjeira: tachos e cacau.

A abdicação do Syriza, a humilhação que lhe estão a impor, Schaulbe esfrega as mãos em público por Merkel não o poder fazer, é uma derrota para a esquerda, o que não pode alegrar ninguém que seja de esquerda, mas é um motivo para vasta e funda reflexão.

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BARRELAS

sabão azul e barnco

11 de Março de 1975, as portas de Abril, abriam-se para mudar de vida.

11 de março de 2015 dia de barrelas de alguma da muito suja que, desde esse dia, se acumulou por Portugal.

Barrela 1- Pedro Passos Coelho, na Assembleia da República a justificar o injustificável. O não pagamento à Segurança Social, desvios do IRS, por trabalhos feitos, para empresas todas elas pouco recomendáveis. Os trabalhos pesadíssimos que Pedro Passos Coelho fazia, dizem os seus antigos patrões, era abrir portas, gabando-lhe o portefólio de gazuas. Mais hábil que Al Capone, não se deixou apanhar nas malhas contributivas para o Estado. Um artista português que, com os seus olhos de bandido nos assalta todos os dias desde que se sentou em São Bento. Mente, mente sempre convictamente como o fez durante a campanha eleitoral, como sempre o fez. Como ainda há pouco tempo, roído pela medíocre inveja de assistir ao triunfo de um partido que se opõe às políticas de austeridade que tanto o excitam, nada melhor que sodomizações teutónicas, disse graçolas sem tino e mentiras para os portugueses desprevenidos se indignarem, afirmando que Portugal foi dos países que mais contribuiu na ajuda financeira à Grécia. Mentiu, como sempre fez e faz. Portugal contribuiu de acordo com o PIB e os tratados europeus que subscreveu. Nem um cêntimo a mais ou a menos! Hoje foi lavar as nódoas indeléveis de contumaz fugitivo às contribuições. Homem sem princípios nem dignidade, que vampiriza o povo trabalhador e bajula o grande capital.

Barrela 2- Em 11 de março de 1975 Spínola tentou um golpe de estado. Mais um golpe de estado depois de um primeiro tentado, em aliança com Adelino Palma Carlos e Sá Carneiro, pouco tempo depois da Revolução de Abril. De um segundo, em 28 de Setembro de 1974, em que a maioria silenciosa, que supostamente o apoiava, partiu os dentes ao enfrentar as forças populares democráticas. Nunca deixou de conspirar contra o 25 de Abril. Fê-lo logo no primeiro momento, quando queria que o Movimento das Forças Armadas regressasse aos quartéis na esperança de um triunfo de uma marcelismo democrático corporizado por ele. Em 11 de Março de 1975, perdeu novamente. Fugiu para o estrangeiro, onde continuou a conspirar contra a democracia e as conquistas da Revolução. Apesar de toda essa actividade conspirativa, Mário Soares, graduou-o marechal, Nomeou-o das Ordens Portuguesas, condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito , a segunda maior insígnia da principal ordem militar portuguesa. Como não há almoços grátis, façam o favor de extrairem as vossa conclusões sobre esta parceria bem pública. Outras continuam ocultas como a da tonitruante voz que se calou e não chegou a ler a proclamação de um 11 de Março vitorioso. Hoje, em alguns meios de comunicação social, o 11 de Março é apresentado com uma casca de banana, uma ratoeira em que e Spínola escorregou deixando-se apanhar na armadilha. Não há um pingo de vergonha. Desde o primeiro momento sempre se tentou mistificar a intentona spinolesca! Como se o homem do monóculo não fosse um dos primeiros e dos mais activos conspiradores contra o a Revolução do 25 de Abril.

Barrela 3- Em Santa Comba Dão, o edil socialista prepara uma candidatura a Fundos Comunitários, para construir um museu e um centro de estudos sobre o Estado Novo! Qual fascismo, qual ditador! O Senhor Primeiro-Ministro do Estado Novo! Em marcha o que anda desde há muito tempo em marcha. A lavagem do fascismo por métodos científicos, pela mão de historiadores encartados como Rui Ramos, com trabalhos nessa área a demonstrar que não houve nem fascismo nem oposição ao fascismo. A panóplia repressiva do fascismo, que não era pouca desde os manuais escolares para lavagens aos cérebros, a Mocidade Portuguesa, a Legião, a Censura, a PIDE/DGS, prisões e campos de concentração, não passavam de suaves meios dissuasores dos recalcitrantes a quem era preciso dar uns safanões a tempo. Até aos historiadores diletantes como o Fernando Dacosta que foi escutar as confissões de Maria para reescrever a história e embelezar a imagem do ditador que não sabia nada das tramoias da PIDE para tramarem Humberto Delgado ou que sugeriu a fuga de Cunhal da prisão de Peniche. Intelectuais latrinários e mercenários não faltaram ao cheiro do dinheiro sujo por um passado execrável.

40 anos passados sobre o 11 de Março de 1975, dói assistir ao estado de degradação, política , económica e ética em que o país mergulhou. Para se refocilar na pocilga completamente, só falta aparecer hoje no Frente a Frente da SIC Notícias (passe a publicidade) José Matos Correia para decretar, como já decretou com o seu ar porcino, que o 11 de Março e as consequentes nacionalizações fizeram regredir o país dez anos. Nem mais nem menos! Esperemos que coloque bem visível um retrato de Ricardo Salgado, o dono disto tudo agora caído em desgraça, herdeiro dos donos disto tudo do fascismo, perdão Estado Novo! auurrrgggghhhhh!!!!!!

Apesar e contra a miséria moral vigente, celebremos com alegria o 11 de Março de 1975!!!

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Libido 4

Depois do acordo de princípio, alinhavado entre o governo grego e a CEE, das múltiplas declarações entre os protagonistas e o que os nossos (des) governantes foram comentando em desbragada linguagem, recomendamos um fim-de-semana alucinante à espera dos próximos capítulos desse teatro escabroso em que se procura esfolar a democracia.

WOLFANG E MARIA LUIS

“Campo de Concentração Austeridade”, “Loucos por Coligações ou São Bento e os 120 Dias de Sodoma”, ”Portugueses mais um esforço para continuarem a ser Esmifrados” e ”Contos para Adultos dos Tarados das Reformas Estruturais”, quatro filmes para maiores de dezoito anos, recomendados para um fim-de-semana acabrunhante, à espera da lista grega a ser entregue em Bruxelas.

Os dois primeiros são protagonizados por Maria Luís Albuquerque e Wolfang Schaulbe e Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, duas das duplas mais famosas no mundo da pornografia financeira, do cinismo político e da crueldade social. Os dois últimos são grandes orgias, celebrando os infortúnios da austeridade com os quatro protagonistas e narração de Cavaco mergulhado no fundo do Poço de Boliqueime, Opções adicionais discursos, entrevistas, declarações dos protagonistas, não recomendadas por questões de higiene mental.Coelho POrtas

Aviso muito importante: os filmes contém cenas sadomasoquistas que podem ferir a mais empedernida sensibilidade, mesmo dos mais experimentados.

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A Grécia, a CEE os seus mandantes, seus mandaretes e monicas lewinskis

A ESPERA DOS BÁRBAROS

— Que esperamos na ágora congregados?

 

Os bárbaros hão-de chegar hoje.

Porquê tanta inactividade no Senado?

Porque estão lé os Senadores e não legislam?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje.

Que leis irão fazer já os Senadores?

Os bárbaros quando vierem legislarão.

 

Porque se levantou tão cedo o nosso imperador,

e está sentado à maior porta da cidade

no seu trono, solene, de coroa?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje.

E o imperador espera para receber

o seu chefe. Até preparou

para lhe dar um pergaminho. Aí

escreveu-lhe muitos títulos e nomes.

 

— Porque os nossos dois cônsules e os pretores

saíram hoje com as suas togas vermelhas, as bordadas

 

porque levaram pulseiras com tantas ametistas,

e anéis com esmeraldas esplêndidas, brilhantes;

porque terão pegado hoje em báculos preciosos

com pratas e adornos de ouro extraordinariamente cinzelados?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje;

e tais coisas deslumbram os bárbaros.

 

– E porque não vêm os valiosos oradores como sempre

para fazerem os seus discursos, dizerem das suas coisas?

 

Porque os bárbaros chegarão hoje;

e eles aborrecem-se com eloquências e orações políticas.

 

– Porque terá começado de repente este desassossego

e confusão. (Como se tornaram sérios os rostos.)

Porque se esvaziam rapidamente as ruas e as praças,

e todos regressam as suas casas muito pensativos?

 

Porque anoiteceu e os bárbaros não vieram.

E chegaram alguns das fronteiras,

e disseram que já não há bárbaros.

 

E agora que vai ser de nós sem bárbaros.

Esta gente era alguma solução.

                                                               Konstandinos Kavafis

(tradução Joaquim Manuel Magalhães/Nikos Pratsinis)

ovelhas

 

Os cônsules, pretores que entre dois partidos sozinhos ou coligados, se sucediam na Grécia, impondo ao povo grego as soluções dos bárbaros foram democraticamente derrotados. As iníquas reformas estruturais, um saco de mentirolas que nada reestrutura e tudo destrói,  que garrotavam a economia, aumentavam a dívida, mantinham os privilégios da oligarquia, aprofundavam  a corrupção, atiravam cada vez mais gregos para a miséria e o desemprego, foram democraticamente derrotadas. Quem venceu pelo voto, propõe outro caminho para sair da crise, caminho dentro do quadro político, económico e social dos bárbaros. Nem isso os bárbaros aceitam. Inquietam-se porque não querem que seja sequer possível pensar que há outras saídas para a crise económica dos países que se debatem com dívidas que são impagáveis, consequência da crise mais geral da Europa tatuada no sistema que se arrasta agónico mas que se julga eterno, sem alternativas.

Governantes e seus sequazes querem ditar, impor as suas leis sobre os países devastados por uma estúpida cegueira que alimenta os oligopólios financeiros, promove uma crescente desigualdade social, instala um desastre económico e social de proporções inquietantes. Mentem manipulando as estatísticas para travestir o desastre. Mentem. mentindo sempre e, sem pudor,  fazem circular a mentira por uma comunicação social mercenária ao seu serviço.

Na CEE, os países que se sujeitaram às receitas das troikas, viram as suas dívidas em relação ao PIB aumentar exponencialmente entre 2007 e 2014. Irlanda 172%, Grécia 103%, Portugal 100%, Espanha 92%. A dívida mundial que em 2007 era de 57 biliões de dólares, em 2010 foi de 200 biliões de dólares, ultrapassando em muito o crescimento económico. Tendência que continua o seu caminho para o abismo, em benefício dos grandes grupos financeiros, entrincheirados nos chamados mercados. O chamado serviço da dívida, os juros, são incomportáveis. São esses os êxitos de uma política cega submetida à ganância usuária que não tem fronteiras ou qualquer ética.

Os governos deixaram de estar ao serviço dos seus povos, nem estão sequer dos seus eleitores. São correias de transmissão dos oligopólios financeiros que se subtraem a qualquer escrutínio democrático ou outro de qualquer tipo. Traçam um quadro legal que os suporta e legitima a ilegitimidade. A democracia é uma chatice, um entrave, um pauzinho nessa gigantesca engrenagem que nos atira barranco abaixo, com efeitos devastadores para a humanidade. Nada interessa a não ser o lucro de quem especula sem produzir nada. As pessoas são uma roda nessa engrenagem.

chaplin

Charlie Chaplin, TEMPOS MODERNOS

Quem não caminha ordeiramente nesse rebanho, quem se opõe, mesmo que mandatado e sufragado democraticamente, é considerado irresponsável, como disse o ogre Wolfang Schauble, ministro da economia da Alemanha, em relação à Grécia. As suas enormidades ecoam pela boca dos seus bufões, das suas monicas lewinskis por todos os cantos de uma Europa submissa aos diktats do bando de arruaceiros financeiros que rouba a tripa forra países e povos. Em Portugal, as nossas monicas lewinskis são mais fatelas, mais rascas com se tem visto e ouvido de Cavaco a Passos Coelho, de Portas a Pires de Lima mais a matilha dos seus sarnentos rafeiros de fila. Espumam raiva, ódio dos ecrãs televisivos às ondas radiofónicas. Quem se atreve a riscar, ainda que levemente, essa realidade em que nos enforcam é logo atacado e silenciado quanto baste por essa matilha de pensamento ulcerado.

Os burocratas europeus dogmáticos, leitores e intérpretes da cartilha neoliberal dizem que a realidade é assim mesmo! Será?

A realidade nunca é a realidade que nos querem impingir como Aragon tão bem descreveu. Há mais vida para lá desse biombo com que a querem esconder qualquer luz, mesmo bruxuleante, de esperança para a humanidade.

ISTO È UMA OVELHA,escultura de João Limpinho

 

AS REALIDADES

Era uma vez uma realidade

com as suas ovelhas de lã real

a filha do rei passou por ali

e as ovelhas baliam que linda ai que linda está

a re a re a realidade

Era uma vez noite de breu

e uma realidade que sofria de insónia

então chegava a fada madrinha

e placidamente levava-a pela mão

a re a re a realidade

No trono estava uma vez

um velho rei que muito se aborrecia

e pela noite perdia o seu manto

e por rainha puseram-lhe ao lado

a re a re a realidade

 

CODA: dade dade a reali

dade dade a realidade

A real a real

idade idade dá a reali

ali

a re a realidade

era uma vez a REALIDADE.

Aragon

(tradução António Cabrita)

ceci nést pas une pipe

pintura de Magritte

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Geral

Pastel de Nata a Cavalo

Pastel de nata

cavaloEm Portugal, as armas e os barões assinalados de uma maioria, um governo, um presidente, o alfa do pensamento politicamente esquálido de Sá Carneiro, deixam registos a assinalar nestes últimos anos.

Um Presidente especialista em raspadinhas premiadas do BPN. Um Primeiro-Ministro que, segundo o seu último empregador, era um entendido em gazuas ”que abria todas as portas” Um Vice-Primeiro Ministro perito em submarinos e feiras e aparecer dedo no ar por tudo e por nada. Uma Ministra das Finanças que hoje diz uma coisa e amanhã outra e é mestre em falhar todos os objectivos ,pelo que os seus melhores orçamentos são os rectificativos. Um moedeiro falso que corta a eito na investigação e vai para a Europa dizer o que nunca disse nem fez para garantir o tacho. Um Ministro da Educação que lança o caos no ensino básico e secundário , sorri satisfeito por lhe cortarem 700 milhões no orçamento do ensino superior e na ciência. Uma Ministra da Justiça que implementa o caos com a reforma judicial. Um Ministro do Ambiente que impõe uma taxa sobre os sacos de plástico e os sujeita ao IVA e inventa um imposto sobre o carbono que vai provocar um aumento generalizado sobre os bens essenciais. Um todo poderoso ex-ministro da Presidência e dos Assuntos Parlamentares, profissional em licenciaturas turbo. Um Governo finge não saber que a austeridade é o maior inimigo da natalidade e para a incentivar aumenta a discriminação social com um cociente de 0.3/filho no IRS, que beneficia tanto de um presidente de um conselho de administração que ganha 4,2 milhões de euros/ano, como a um casal com o ordenado mínimo, porque os filhos dos ricos não são iguais aos filhos dos pobres. Da chamada sociedade civil exemplos também abundam. Há um banqueiro que cinco dias antes de o seu banco declarar falência apresentou com pompa e circunstância o livro de sua autoria Testemunho de Um Banqueiro. A história de quem venceu nos mercados”. Um outro recebeu a distinção de doutor honoris causa para nos depois se descobrir o enorme buraco do seu banco que era, diziam, um dos pilares da economia e da finança nacional. Esses dois sucessos tiveram lugar no ISEG pela mão de João Duque que o dirigia e é membro destacado do think-tank nacional que continua a ser reverentemente escutado nos media..

Etc, etc, etc. A lista poderia continuar, ser quase interminável, se não tivesse acontecido nos últimos dias uma iluminação quase divina que nos deixa alumbrados.

O anterior Ministro da Economia tinha descoberto e empunhado a alavanca mestra para aumentar as exportações: o pastel de nata.. Anos passados a por canela nos pasteis de nata sem se verem resultados palpáveis eis que o Presidente da República se chega à frente, dá um valioso e definitivo contributo:“o hipismo é uma área chave para o desenvolvimento da economia nacional”É a grande revelação que banaliza mesmo as da Senhora de Fátima aos pastorinhos. O grande desígnio nacional está encontrado: O Pastel de Nata a Cavalo

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Geral

Vale tudo para fantasiar o crescimento económico

gráficos

Aparentemente hoje seria dia para escrever sobre aquela coisa, aquele simulacro de democracia que foram as primárias do PS.

Não! Que fique isso para a vozearia que vai inundar os meios de comunicação social na “grande bouffe” ilusionista que atinge cumes em momentos como este. Claro que interessa fazer o cotejo do acontecimento no mais vasto contexto da degradação da democracia, quando as cinzas pousarem.

O que assistiu é mais um momento do aviltamento e da alienação das sociedades actuais Um momento digno de uma das últimas notícias económico-financeiraas bem exemplificativas do estado a que se chegou, em que a moral e ética e quaisquer princípios são ferozmente guilhotinadas na praça pública.

O desespero é de tal ordem que tudo serve para, estatisticamente, aumentar o PIB.

Agora a CEE autoriza que, para o cálculo do PIB sejam incluídas as actividades económicas à margem do que é lícito. A prostituição e o tráfico de droga passam a poder ser englobados no PIB, mesmo na base de valores estimados, nos países onde essas actividades são proibidas.

Em Inglaterra são mais dez mil milhões de libras. Em Espanha o PIB aumenta =,85%. Em Portugal pode a ir até mais 2%. Uma orgia que vai contribuir para o crescimento estatístico da economia.

Sugere-se que o governo PSD-CDS, que se diz tão empenhado no crescimento económico com os resultados desastrosos conhecidos, que é tão dado ao marketing, lance vigorosas campanhas para que, finalmente, haja o crescimento económico.

Que iniciem imediatamente campanhas publicitárias com esse objectivo.

P

Já foi às Putas hoje?

O cálculo estimado de gastos com putas tem benefícios fiscais.

Seja Benvindo ao Portal das Finanças para os conhecer

Nota Muito Importante:

Para a AT Autoridade Fiscal e Aduaneira

o conceito de putas é abrangente, não tem sexo

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O seu snif está em dia?

Cada doze snifadelas dão direito

a concorrer ao sorteio trimestral

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colabore connosco

declare as suas snifadelas

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Geral, Política

Porque não me falta a memória

Já sabíamos que o Cardeal Policarpo tem uma missão, certamente divina, de proteger os privilégios de alguns, apelando à resignação dos portugueses perante as injustiças, os sacrifícios, a austeridade e o roubo de que estão a ser alvo.

Não se manifestem, não se revoltem, isso é pouco democrático e, claramente, nada católico, diz o Cardeal.

Agora, também o seu órgão de comunicação social, a Rádio Renascença, vem informar o fiel ouvinte dos perigos da resistência à injustiça.

Num texto não assinado, onde sobressai o ódio, o medo e o preconceito, sente-se o cheiro a mofo e compreende-se que cada palavra foi carinhosamente recuperada do léxico anticomunista dos tempos da guerra fria.

«Os perigos da falta de memória», assim se intitula o texto, fala-nos do perigo vermelho, o perigo das pessoas aderirem às propostas do PCP, dos comunistas que vêem na crise uma oportunidade para levar os ingénuos a pensar que é possível neste mundo construir um mundo diferente e melhor, distraindo-os do essencial, claro está, os crimes do comunismo e a falta de liberdades nos regimes do ex-bloco socialista.

Ora se avaliássemos tudo pelo seu passado, veríamos em Policarpo, não um Jesus Cristo, mas um Cerejeira, ou um Torquemada, ou um qualquer Cruzado, veríamos que em Portugal, no tempo em que não havia liberdade, os comunistas estavam a reivindicá-la e a arriscar a sua vida por ela e a hierarquia da Igreja a defender o regime, a repressão e a ausência de liberdades, tais são os perigos da falta de memória.

Também seria interessante apelar à memória para se ver o papel que a Igreja (as Igrejas) tiveram nos tais países do ex-bloco socialista, com quem se aliaram, que tipo de liberdades defenderam, teríamos conclusões bastantes interessantes, mas esse seria outro debate e os erros de uns, não absolvem os erros de outros.

Felizmente, não avalio as pessoas e as organizações pelos mesmos parâmetros que se utilizam na Rádio Renascença, até porque o que está verdadeiramente em causa não é o passado e a memória, mas o presente e a defesa que a hierarquia da Igreja faz deste governo e do caminho de desastre em que este coloca o País.

O que está em causa é a necessidade de, através do preconceito e da frase feita, a Rádio Renascença e a hierarquia da Igreja alertar para o perigo de as pessoas ouvirem as propostas do PCP e a apresentação de alternativas à crise, à austeridade e a recessão, um projecto que rompe com as inevitabilidades e põem em causa as desigualdades e as injustiças de um sistema assente na exploração, quando o que exigem é a resignação e a aceitação acéfala da miséria e do emprobrecimento do Povo e do País.

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Política

Estarão as comadres zangadas?

As comadres andam zangadas, não se dão bem umas com as outras, têm difíceis reuniões de 20 horas, querem demitir-se, ameaçam que vão avaliar o seu papel no mundo, decidem não falar publicamente sobre o que lhes vai na alma, estão em permanente crise existencial.

Tudo isto é muito interessante para encher páginas de jornais e permitir belas primeiras páginas, como no exemplo.

Mas, a verdade é que enquanto não se consuma do divórcio, as comadres com caras feias ou alegres vão despejando a sua raiva contra os portugueses.

Não sabemos se a proposta de Orçamento do Estado 2013 é fruto do amor ou do ódio entre as comadres PSD e CDS, sabemos o quanto vai custar na vida de todos nós, na destruição da economia nacional, no aprofundar da crise, no empobrecimento do país.

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Geral

Cultura, austeridade

ImageNo meio do vórtice que está a empurrar Portugal para o abismo, com milhões de trabalhadores no desemprego, com milhares de empresas a entrarem em falência, com o roubo descarado, por via directa e indirecta, que o governo faz aos trabalhadores, reformados e pensionistas fabricando uma política de esbulho que transfere os rendimentos do trabalho para o grande capital, com as manchas de pobreza a cresceram hora a hora, com a condenação a situações limite dos deficientes, dos que sofrem de doenças crónicas físicas ou psíquicas, com o Estado a ser desmantelado, socavando-se a sua capacidade de intervenção, com os direitos sociais, económicos e políticos corroídos, pauperizados até serem meramente formais, enquanto se destrói o país para o submeter às garras do grande capital e se esvaziam os cidadãos dos seus direitos mais elementares, acções violentas e violentadoras cinicamente postas em prática sob a capa do fantasma das liberdades democráticas, numa idealização das liberdades, cirúrgica e hipocritamente removidas do contexto económico e social para, puras e absolutas, consolidarem privilégios de classe, porque se os detentores do grande capital e os seus serventuários têm largas e amplas margens de liberdades em contraponto são cada vez mais reduzidas as liberdades pessoais de milhares de trabalhadores qualquer que seja a sua actividade, exercida numa fábrica ou num escritório, no campo ou numa nuvem informática, num consultório ou no palco de um teatro, submetidos a longas e duríssimas horas diárias de labor, pessimamente remuneradas, entregues às incertezas instaladas do dia seguinte. A liberdade deles é a do direito do mais forte à liberdade de legalizar os instrumentos de exploração e dominação. Usam a democracia em seu proveito e das classes que os sustentam, não hesitando em mentir despudoradamente para arrebanharem os votos que legitimam os desmandos que vão cometer, traindo os que neles confiaram. Falam, usam, agitam a bandeira da democracia enquanto a democracia for a base da ordem económica e social que lhes garante os privilégios pela mais desenfreada exploração como a que hoje se assiste em Portugal. Exercem a violência sem um tremor na mão. Levam a violência, a física e a psicológica, aos extremos que forem necessários sem uma ruga de hesitação, como a história o tem abundantemente demonstrado, como todos os dias este o governo o demonstra assumindo medidas que ferem os cidadãos, que desprezam o povo, que torna quase impossível a vida dos trabalhadores, reformados, pensionistas, pequenos e médios empresários a favor do grande capital, no altar de vilania do deus dinheiro.

Neste contexto, quando cada vez mais mulheres e homens, atirados para a pobreza ou para as suas margens, nunca reconheceram ou deixam de reconhecer a forma abstracta do pão, por só verem no pão o combustível necessário para lhes assegurar a sobrevivência, poderá questionar-se a premência de exigir 1% para a cultura. Se não se deveria sepultar temporariamente essa reivindicação debaixo de outras urgências colocadas pelo estado de sítio imposto pelo governo, pela troika que vai fazendo caminho por entre os maleáveis escolhos de uma oposição hesitante e intermitente o que a torna objectivamente cúmplice da situação que se vive. Continuar a ler

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Política

Os pobres que paguem a crise ou a equidade à portuguesa

As medidas de austeridade do governo:

AUMENTO DA TSU PARA OS TRABALHADORES – 11 PARA 18% (+7 %)

REDUÇÃO DA TSU PARA EMPRESAS – 23,75% PARA 18% (-5,75%)

AUMENTO DAS TAXAS LIBERATÓRIAS (mais-valias bolsistas, lucros accionistas de empresas) 25 PARA 26,5% (+ 1,5 %)

Palavras para quê?

 

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Política

Um povo zangado

A questão da TSU foi “ideologicamente capturada pela esquerda”, Ângelo Correia na SIC-Notícias, 18/Setembro/2012

Provavelmente todos ficámos surpreendidos com a dimensão que o protesto popular atingiu no dia 15 de Setembro um pouco por todo o país. Conhecíamos o grau de frustração e de zanga que se abateu sobre grande parte do nosso povo mas não tínhamos, até sábado passado, percepção de como, e em que grau, tal se iria expressar.

O que seguirá é imprevisível. Compete aos agentes políticos, sobretudo aos governantes, ler os sinais: há um povo zangado e irado que grita nas ruas. Há gente em desespero. É certo que saíram às ruas os que habitualmente vão às manifestações… mas também é verdade que desfilaram muitos que nunca o haviam feito. Em lugares insuspeitos de simpatia esquerdista. Como Viseu, no antigo “Cavaquistão”. E muitos mais poderão ainda vir a sair às ruas.

O que fez transbordar o copo da paciência dos portugueses é bem claro. Depois de o encher com desemprego, cortes nos salários e nas prestações sociais, aumentos generalizados de impostos e de preços de bens básicos, a questão TSU foi a “gota” que o fez transbordar. Pelo desastroso impacto que se antevê no rendimento dos cidadãos, mas também pelo que de simbólico ela transporta: a transferência de milhares de milhões de euros dos trabalhadores para as empresas.

Apesar de a alteração da TSU ter sido unanimemente recusada por trabalhadores e patrões e de ser olhada com desconfiança pela Academia, os Angelos Correias de serviço insistem em apresentar essa rejeição como “uma captura ideológica da esquerda”. Devem julgar que toda aquela gente que saiu às ruas é estúpida!

O protesto popular generalizado ameaça agora ultrapassar o enquadramento da contestação institucional, tradicionalmente orientada pela CGTP-IN, sindicatos e partidos de esquerda. Sendo uma contestação sem o enquadramento dessas organizações formais, ou “inorgânica” no dizer de alguns, aumentam os riscos de se ultrapassar algumas marcas de segurança que caracterizam as pacíficas manifestações sindicais. E quando o povo, mesmo que pacífico, sai para rua, traz sempre algumas boleias indesejáveis…

Estes governantes (como outros antes destes) gostam de desvalorizar o significado e a importância das manifestações populares. Respaldados na legitimidade da democracia representativa, menorizam as outras formas de expressão política; e tanto mais as desvalorizam quando essas manifestações têm a designada marca “orgânica” ou sindical. Mas fazem mal. Será que preferirão um dia negociar com poderosos movimentos, socialmente profundos, mas difusos e de difícil representação? E como o farão?

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Política

Governo consegue unanimidade

A opinião sobre a redução da TSU para os patrões e o aumento para os trabalhadores é unânime: todos estão contra.

Era difícil, mas conseguiram

Patrões contra a forma como o Governo reduziu a TSU

 “Só por teimosia se pode insistir numa receita que não está a dar resultados”.  – Manuela Ferreira Leite

Será um “desastre” se o Governo cumprir legislatura, diz Mário Soares

Medida é “estúpida e irracional” – João Proença

Porta-voz do CDS arrasa Gaspar e ministro responde na mesma moeda

E, a pedido de várias famílias, mais estas:

Belmiro de Azevedo diz que “é tudo navegação à vista”

Bagão Félix afirma que Passos deu “machadada final no regime previdencial”

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economia, Política

Com o Coelho as crianças andam sempre ao colo

Com as medidas de austeridade anunciadas e com a nova distribuição de sacrifícios por todos «…a Sonae deve poupar, só no próximo ano, 20 milhões de euros. 
A EDP vai pagar menos 10 milhões à Segurança Social e, na banca, o BCP vai poupar cerca de 19 milhões.
O estudo do banco de investimento revela ainda que a Jerónimo Martins vai poupar quase 9 milhões, enquanto a a Mota-Engil vai poupar 5 milhões com a redução da TSU.
A Portugal Telecom e o BPI vão pagar menos 7 milhões de euros cada um».

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economia, Política

Experimentalismo, cegueira, incompetência… ou vingança histórica?

Com as medidas que o governo acaba de anunciar o país é transformado num imenso laboratório de “experimentalismo social”, citando a infelizmente certeira expressão do empresário e ex-dirigente do PSD Alexandre Relvas. Quem está colocado nesse laboratório são os trabalhadores, sejam do sector privado, sejam da função pública. O objectivo da experiência é proceder à maior transferência de poder social e económico do último século, destruindo equilíbrios laboriosamente tecidos ao longo das últimas gerações.

Expliquemo-nos.

Os resultados do pacote de medidas aplicado desde o inicio do acordo com a troika são os que estão vista: desemprego crescente, oficialmente a roçar o 16%, recessão estimada em 3,3% (2ª trimestre), falências a perder de vista e um cortejo de limitações no acesso aos sistemas de saúde e educação. Pese todo o empenho dos sacrifícios, nem o défice orçamental, nem o peso do endividamento são os acordados com a troika há um ano. É pois difícil não classificar o resultado como de falhanço total.

As medidas agora anunciadas por P. Passos Coelho para 2013 mantém o rumo anterior: penalizar os rendimentos de trabalho, numa mais ou menos assumida estratégia de diminuição de salários. Agora estendida aos trabalhadores do sector privado. Pretendendo contornar o acórdão do Tribunal Constitucional, aos funcionários públicos continuarão negados subsídios de férias e de Natal mediante o recurso a uma “habilidade”: reposto um deles, será integralmente retirado por via do aumento de desconto para a segurança social. E o que mais se verá adiante em sede da já anunciada “diminuição de escalões” do IRS.

A equidade de sacrifícios continuará a ser figura de retórica. A indefinição das medidas a aplicar (?) ao “factor capital” continua patente, contrastando com a precisão e o detalhe com que são afectados os rendimentos dos trabalhadores por conta de outrem.

A mesma mão fiscal (que só formalmente não é imposto, para satisfazer o parceiro CDS) que recai sobre salários com um aumento de 7% de desconto para a segurança social – uma penalização cega e massiva, oferece de bónus às empresas uma diminuição de 5,75% nessa contribuição. Os magos das Finanças que aconselham o PM querem fazer uma “experiência”, certamente respaldada no catecismo do FMI.

Pretendem esses magos fazer-nos crer que tal diminuição levará as empresas a criar empregos! Bem podemos ouvir um Relvas insuspeito, o já referido Alexandre: “As decisões de redução da Taxa Social Única (TSU) para as empresas e o aumento para os trabalhadores para promover a competitividade só podem resultar de um enorme desconhecimento da realidade empresarial. Quem conheça o mundo das empresas sabe que estas medidas não terão impacto estrutural, nem sobre emprego nem sobre as exportações. O número de empregos criado será marginal, assim como será marginal o aumento das exportações” (entrevista à Radio Renascença). Acrescento eu que esse bónus não deixará de ajudar a engordar as parcelas dos lucros de alguns (muitos?) empresários.

Continuando a erodir o poder de compra de milhões de famílias, o que equivale a retirar meios financeiros da economia e assim estimulando uma péssima expectativa de retracção e não investimento, o Governo tudo faz para cavar mais fundo a recessão para onde atirou o país.

Esquece também a importância um tecido económico composto por dezenas de milhar de pequenas e médias empresas que operam exclusivamente no mercado interno, essas sim responsáveis pela maior fatia de emprego dos portugueses e por parte importante da economia nacional.

Ao invés de tomar medidas para relançar a economia, retomando consumos e estimulando as produções nacionais, a cartilha ideológica do Governo aposta em tornar o país mais competitivo por via da baixa generalizada dos custos com o trabalho e, por essa via, do empobrecimento geral da população. Será que quer concorrer com os custos dos trabalhadores chineses?

Até a “folga” concedida pelas medidas recentemente divulgadas pelo BCE, no que se refere à compra ilimitada de títulos da dívida soberana até três anos, parece ter escapado a Passos e aos seus magos das finanças.

E não estamos perante o ciclo grego?

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Política

Fugir às palavras

Por vezes, é difícil fugir às palavras, utilizar subterfúgios para classificar uma realidade concreta que se nos impõe com tal força e grandeza que fugir dela mais não é do que uma manifestação de cobardia.

Com o atual governo, tais situações ocorrem com cada vez maior frequência. Evitar, por razões de bom gosto, educação ou quaisquer outras, classificar com as palavras certas o que Passos Coelho nos vai anunciando deixou de ser um imperativo de bom gosto ou de educação para passar a ser um ato inaceitável.

Por isso, aqui manifesto a minha profunda convicção de que o anúncio de novas medidas de austeridade feito pelo primeiro-ministro no dia 7 de setembro foi um dos maiores atos de vigarice, aldrabice, mentira e desonestidade, que não apenas a política, de que há memória neste país, ainda que, na nossa vida em democracia já tenhamos assistido a muitas.

Passos, que falou antes do jogo da seleção para ver se a coisa passava sem grande dores, foi capaz de nos querer aldrabar e vigarizar com a ideia de que estava a respeitar, com estas novas medidas, os princípios de equidade que o Tribunal Constitucional utilizou para obrigar o Governo a repor os subsídios de férias e de natal dos funcionários públicos. A vigarice é total, a aldrabice não tem limites. Quanto tempo terão andado a pensar na forma de nos tentarem enganar com este esquema em que tiram aos funcionários públicos um subsídio, dizem que repõem o outro em prestações mensais, mas logo a seguir o retiram com igual aumento em sete por cento da taxa da segurança social, fincando tudo na mesma?

Tudo exatamente na mesma, com os funcionários públicos, contrariando o espírito do acórdão do Tribunal Constitucional, a ficarem sem nenhum subsídio ou melhoria salarial mais uma vez.

Que mal fizeram os funcionários públicos para serem o alvo de tanta vigarice, aldrabice e desonestidade? Tanta estupidez…

Vigarice e aldrabice. Não tem outro nome o que este primeiro-ministro vigarista e aldrabão e seus desonestos acólitos nos fizeram.

Maior vigarice só a que Paulo Portas anda a ensaiar, quando nos vier dizer (se é que diz alguma coisa, ele que tão bem se sabe calar nestes momentos) que o Governo fez o que o CDS sempre defendeu e não aumentou impostos, mas sim a segurança social. Terá Portas coragem para dizer tal coisa? Acreditará ele que somos todos assim tão estúpidos e parvos, como parece acreditar o deputado nuno Magalhães, que temos o azar de ser deputado municipal em Setúbal, quando afirma que estas medidas não são um aumento de impostos? Quando afirma que estas medidas são um incentivo à criação de emprego? Que respeitam a “equidade”? De que “equidade” fala ele? Da que o primeiro-ministro se esqueceu de anunciar para as grandes fortunas e transações de capital? Da transferência dos dinheiros da TSU dos salários dos trabalhadores para os bolsos dos patrões?

Que mais poderemos dizer perante tais vigarices e aldrabices?

Que dirá o Presidente da República, ele que anda tão atentos aos limites dos sacrifícios que podem ser impostos aos portugueses? Se nada disser, quer dizer que também alinha na vigarice e aldrabice de Coelho e Portas?

Ficarei à espera das respostas. Claro que sei que devo esperar sentado…

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